Sem professores, escola indígena de Paraty ainda não começou o ano letivo.

05/09/2015 05:48

Estudar não é programa de índio em Paraty. As três escolas em áreas de tribos Guaranis, que são consideradas rurais, foram fechadas no fim do ano passado por falta de professores — e só reabriram, em duas delas, no final de agosto. Outra segue à espera. Enquanto isso, as crianças ficaram sem aula ou foram para os colégios em áreas urbanas.

— Os colégios da cidade não atendem as necessidades deles. Aqui eles aprendem tudo na língua guarani. Além disso, há problemas no transporte. Os alunos de Rio Pequeno, por exemplo, precisavam às vezes andar até quatro horas para chegar à escola — contou um professor da região que trabalha com os índios.

 
 

O EXTRA mostrou neste domingo o processo de fechamento das escolas no campo do Rio: a média é de quase 40 colégios fechando as portas por ano. Nesse ritmo, eles serão extintos em 26 anos. Entre 2008 e 2014, o número caiu de 1.262 para 1.037. Em Paraty, nesse período, foi de 29 para 26.

A Escola Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda tem a sede em Bracuí, Angra dos Reis, e três salas de extensão, em Rio Pequeno, Paraty Mirin e Araponga, todas em Paraty. O prédio principal tem quatro turmas e duas sala. No ano passado, ela atendia 132 crianças de 1º ao 5º ano. As salas de extensão — que, em teoria, fazem parte da mesma escola, mas estão em locais diferentes — é que sofrem com a falta de professores.

— Moramos a 10km do vilarejo mais próximo onde tem uma escola urbana, mas elas precisam de uma educação específica — conta Tupã Poty, índio de 50 anos que reúne as crianças em um projeto de arte e educação: — Eu ensino um pouco de português e matemática através de trabalhos artísticos. Mas não sou professor. Só ajudo com as crianças enquanto o estado não vem.

A Secretaria de estado de Educação informou que uma lei de 2014 impedia a renovação dos contratos dos professores que trabalhavam nessas salas de extensões. “A secretaria teve de solicitar às aldeias indicações de professores índios. Por conta de pendências ligadas à documentação de alguns profissionais, houve atraso no início das aulas. A situação já foi regularizada”.

Em Araponga, no entanto, as aulas ainda não voltaram, segundo os educadores.


Fonte: EXTRA